Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Descrição de chapéu oriente médio

Iranianas invisíveis

Missão da ONU confirma brutalidade do regime teocrático contra mulheres, enquanto o mundo ainda finge não ver

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"Mulher, Vida, Liberdade". Esse é o nome do movimento que eclodiu no Irã, em setembro de 2022, após a polícia matar Mahsa Amini por não usar o véu islâmico do modo correto.

A resposta dada pelo regime foi analisada pela Missão de Apuração de Fatos do Conselho de Direitos Humanos da ONU, criada em novembro de 2022. Em março deste ano, foi divulgado o relatório aterrador.

As forças de segurança mataram 551 pessoas, das quais pelo menos 49 mulheres e 68 crianças, com padrão doloso (tiros em rostos, cabeças e pescoços de manifestantes).

Pessoas seguram cartazes e agitam bandeiras iranianas durante um protesto global em solidariedade às mulheres iranianas em Nova York - Kena Betancur/AFP

Além das mortes ilegais, o relatório indica detenções arbitrárias, tortura, violência sexual e desaparecimentos. Conclui que o regime iraniano é responsável por violações dos direitos humanos, com indícios de crimes contra a humanidade.

Também aponta perseguição de gênero, já que o acesso das mulheres a educação, saúde, tribunais ou empregos é condicionado ao uso do véu.

Ao menos sete pessoas foram executadas pelo Estado por associação com o "Mulher, Vida, Liberdade". Neste mês, o rapper iraniano Toomaj Salehi foi condenado à forca.

A presidente da missão da ONU, Sara Hossaina, disse que "a repressão no Irã continua enquanto a atenção do mundo se volta para outro lado".


Tem razão. A própria ONU finge não ver, ao indicar o Irã para presidir o Fórum Social do Conselho de Direitos Humanos do órgão. Na votação para prorrogar o trabalho da missão, neste abril, 14 países se abstiveram, incluindo o Brasil, e 8 foram contra, dentre eles China e Cuba.

A esquerda global, com seu discurso distorcido sobre islamofobia, também não encara o descalabro.
Relativistas alegam que a obrigatoriedade do véu e a brutalidade contra as iranianas são aspectos culturais.

Ora, o apartheid racial na África do Sul foi implantado pelos colonizadores, e a misoginia estatal no Irã veio com a Revolução de 1979. Por que o primeiro foi corretamente considerado crime contra a humanidade e rechaçado por protestos em todo o mundo, mas a segunda não é?

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